21 abril, 2010

Pesquisas Eleitorais - Como Funcionam?



"Agora você sabe que Pesquisador do IBOPE é igual ao dinheiro do Paulo Maluf, todos sabem que existe, mas ninguém nunca viu."



Você já deve ter se perguntado, porque eu nunca fui entrevistado? porque eu não conheço nenhum entrevistado? porque ninguém que eu conheço, conhece alguém que foi entrevistado?

A resposta é simples:
AMOSTRAGEM

Mas vou além neste post, não vou apenas demonstrar que estatisticamente você tem tanta chance de ser entrevistado quanto o Rubens Barrichello de ganhar o campeonato ou o Ronaldo de perder 10kg, mas tentar entender como funcionam e como são utilizadas essas pesquisas. E como lembrou o Anônimo (eu sei que é tu Zé) no comentário do Post anterior - 2010 é ano eleitoral dos mais importantes -, vou focar nas pesquisas eleitorais, mas boa parte serve para qualquer tipo de pesquisa, de audiência na TV até produtos comerciais.

Falando em "tipo de pesquisa", existem dois tipos básicos de pesquisa: as QUALITATIVAS e as QUANTITATIVAS, o nome ajuda um pouco a esclarecer, "qualidade" e "quantidade" respectivamente.

Definindo e Resumindo
Uma pesquisa qualitativa busca informações subjetivas, como em um bate-papo, tenta avaliar as intenções, crenças, motivações e atitudes de um indivíduo ou grupo. Mas isso sem fornecer dados que possam influenciar na resposta. Um exemplo. Se o pesquisador pergunta:

- Em quem você pretende votar nas eleições 2010?
e você responde:

Subentende-se que você está insatisfeito com a política do país ou não conhece nenhum candidato "padrão".

Diferente das pesquisa quantitativas, em que as perguntas são feitas dentro de um questionário fixo, com as opções de resposta.
Em uma pesquisa quantitativa, nossa pergunta fica assim:

- Se as eleições fossem hoje, e os candidatos fossem estes, em quem você votaria?
você responde:

Pronto, uma resposta consciente e explícita que expressa diretamente seu "desejo de voto".

Geralmente, utilizam-se qualitativas quando o objetivo é coletar dados para a criação ou modificação de um projeto ou estratégia de marketing. Enquanto as quantitativas são usadas em geral para geração de um "ranking" de classificação entre as opções oferecidas.

Uma curiosidade interessante:
Em suas pesquisas eleitorais, o grupo IBOPE utiliza um "disco de opções", os candidatos estão distibuídos em um círculo de papel, que é entregue ao entrevistado. Segundo eles, se fosse apresentado em uma lista comum, isso implicaria em uma ordem de candidatos, mesmo que alfabética, podendo influenciar as respostas.

A AMOSTRAGEM
Institutos como o IBOPE, o DATAFOLHA e o VOX POPULI, para citar os mais famosos, costumam entrevistar pouco mais de 1000 pessoas a cada solicitação de pesquisa.
Em um país com aproximadamente 125 milhões de eleitores aptos (segundo estatísticas do TSE em 2006 - aqui), são entrevistados menos de 0,00085% da população em idade eleitoral, menos que um milésimo de um por cento.

Agora você sabe que Pesquisador do IBOPE é igual ao dinheiro do Paulo Maluf, todos sabem que existe, mas ninguém nunca viu.

Além do número de entrevistados, também são escolhidos o tipo de entrevistados. 

Por exemplo: se em uma cidade, o censo declarou que há 8 mulheres para cada 5 homens, a pesquisa abordará mais mulherese, na mesma proporção. Se em outro município, a classe predominante é a C, mais pessoas dessas classes serão entrevistadas, em detrimento de outras. E assim com outros dados, como faixa etária, escolaridade, distribuição geográfica e etc. Assim, baseados nos dados do último censo do IBGE, as empresas de pesquisa de opinião avaliam qual a melhor forma de representar na amostra, a opinião de uma cidade ou estado.

Mas isso nem sempre foi assim, a história das pesquisas começa em um jornal na Pensilvânia/EUA, em 1824, com uma pequena pesquisa local para a eleição presidencial do ano. Em 1916 a empresa The Literary Digest, uma revista americana, fez uma pesquisa mais ousada, porém pouco criteriosa. Junto com a revista, era enviado uma espécie de "cartão-postal" onde os assinantes da revista escolhiam o candidato de sua preferência e devolviam ao Digest. Funcionou bem durante 4 eleições, mas em 1936 o método mostrou sua falha, em uma pesquisa com 2,3 milhões de assinantes, a revista errou feio no resultado da Eleição. Colocou Alf Landon como o candidato mais popular, muito a frente de Franklin D. Roosevelt.

No mesmo ano, George Gallup realizou uma pesquisa que pretendia exemplificar seu método diferente de aferir opiniões, e com apenas 5 mil pesquisas, mas de acordo com a "amostra geral" americana, previu a vitória esmagadora de Roosevelt que veio a acontecer.

A Literary Digest saiu do ramo das pesquisas e a Gallup é, ainda hoje, uma das maiores do ramo no mundo inteiro.

NO BRASIL
Por aqui, as pesquisas tem grande valor para as empresas e partidos políticos que sabem como utilizá-las, ou que contratam quem saiba. Marcos Coimbra e Duda Mendonça são dos que sabem. Em 1988 Coimbra foi procurado por Fernando Collor, que queria saber quais suas chances de ser Presidente da República. Ele fez um questionário com 100 temas e perguntas e o aplicou em grupos distintos. O que ele descobriu, ajudou a montar a "imagem pública" de Collor que o elegeria nas famosas diretas já.

Foi também com pesquisas como essa (em grupos, as qualitativas) que Paulo Maluf escolheu seu sucessor na prefeitura de São Paulo, Celso Pitta em 1996. Mas o "nome do santo" que operou esse milagre é outro, Duda Mendonça, marqueteiro das campanhas de Maluf.

Marcos Coimbra trabalhou na campanha do outro Fernando também, o FHC, em 1994, e desenvolveu um trabalho muito parecido com o do primeiro Fernando, perguntou ao povo o que ele queria, e o povo respondeu, um candidato foi "montado" à gosto e aceito em outubro.

Advinha quem trabalhou na campanha do Petista Luis Inácio em 2002? Duda Mendonça. Foi dele (através das pesquisas) a idéia de amansar nosso Companheiro Sindicalista Bravo e transformá-lo no "Lulinha Paz-e-Amor" que no início assustou, mas depois agradou e também se elegeu, duas vezes.

Essa dupla, Coimbra & Mendonça, daria até uma HQ ou Novela da Televisa, vem elegendo presidentes há duas décadas. Mas não se pode culpá-los, eles são, no mínimo, competentes naquilo que fazem. Não dizem que o cliente sempre tem razão? Pois então, eles tratam de entregar aquilo que o povo deseja. 

Nei Lisboa tem uma frase em uma canção - "Cada povo tem o novo que mereçe".

Se você assistiu no dia 3 de outubro de 2002 ao debate dos candidatos na Rede Globo, viu mais uma obra da "genialidade" de Duda Mendonça. Assim que iniciaram o programa no Rio de Janeiro, 7 "convidados" reuniram-se em uma sala em São Paulo para assistir ao debate, tudo bem, deve ser um grupo de amigos, certo? não, eles não se conheciam previamente e só foram orientados à assistir o debate e comentar, entre si, o que estavam achando.
Do outro lado de uma parede com vidro espelhado, Eduarda Mendonça (filha do Duda) captava e transmitia em tempo real as impressões dos 7 aos estúdios da Globo no Rio. Os ajustes eram feitos e o candidato sabia se deveria repetir uma proposta não entendida, ser mais ou menos agressivo, atacar ou defender.

Apesar do clima "sala-de-interrogatório" com espelhos, microfones e câmeras, nada disso é ou foi segredo pra ninguém, também não foi amplamente divulgado. As pessoas ali foram contratadas para fazê-lo, e todos os candidatos usam estas táticas, alguns com salas dessas em mais de um lugar do País, para ter duas impressões distintas.

E o que nos resta fazer? a não ser assistir espantados o quanto um candidato pode mudar de uma eleição pra outra.

Bom, preocupemos-nos com as propostas e se o candidato que a está fazendo apresenta uma maneira "viável" de cumpri-la. De que adianta prometer a bomba atômica se não enriquecemos urânio no Brasil? ou prometer uma "reforma política total" se sabemos que não haverá apoio? não desperdice seu voto, avalie, compare, "pesquise" e decida.

Qual a utilidade deste Post? Divulgar, você tem o direito, e mais ainda, o DEVER de saber que isso acontece, sempre, que aquele sorriso refeito, as plásticas novas, aquela careca brilhando, aquele vídeo em câmera lenta, em que o candidato beija crianças, acena com mãos sujas de "trabalho", bate nas costas do trabalhador uniformizado, foi feito para você, pensando em você, porque você quis que fosse assim.

E em outubro, vamos tentar mais uma vez, fazer a melhor escolha, ou a "menos ruim".

E que Allah não nos abandone!

Fontes:
Revista Piaui - Março de 2010 - na Reportagem "Dentro das Pesquisas" - Por Consuelo Dieguez
Site do IBOPE - Metodologia de Pesquisas.
Site do TSE - Pesquisas Registradas.
Site do TSE - Estatísticas Eleitorais.

Deixe seu comentário, você se sente enganado pela "máquina de propaganda" política?



18 abril, 2010

O Imperador de Roma - Personalidade

"Acredito que Júlio César tenha sido uma pessoa de grande carisma, com uma inteligência acima da média e com coragem para levar adiante seus sonhos mais delirantes. Foi um megalômano em alguns momentos, quando tentou ser coroado Rei diante do povo e em algumas de suas construções e homenagens aos outros e a si."

Para conseguir mostrar um pouco da personalidade de Júlio César vou escrever uma breve introdução histórica/genealógica, depois exemplificar alguns atos e por fim tentar uma conclusão.

É importante salientar que as "melhores" fontes sobre a vida de César, são, em ordem: Plutarco (46 à 126 d.c), Suetônio (69 à 141 d.c) e o próprio Júlio César (100a.c à 44a.c) que deixou apenas relatos de sua vida adulta/militar.

Não se encontram muitas informações sobre César antes dos 16 anos de idade. 

Plutarco e Suetônio escreveram quase em formato de crônica sobre a vida de César, sendo o primeiro melhor escritor que o segundo, porém deixando um relato mais curto.

Contudo, convém saber que César era filho de Caio Júlio César (sim, ele herdou o mesmo nome do pai) e Aurélia Cota, duas famílias de "patrícios".

Os patrícios formavam a aristocracia ou nobreza romana e tinham sua descendência direta ligada aos chefes tribais da região do período "pré-romano" ou aos Deuses da época. Somente patriciados podiam concorrer ao cargo de cônsul, procônsul ou senador (respectivamente os 3 cargos de maior importância), ou seja, dominavam a cena política.

A ascendência de César, por exemplo, segundo a lenda, remetia até Lulus, que era filho do príncipe Troiano Enéias e Neto da Deusa Vênus (ou afrodite).

Apesar de nobre, sua família não era rica, para os padrões de riqueza da época, por isso nem seu Pai nem seu Avô chegaram a ocupar cargos de grande importância na república romana.

Sua tia paterna Júlia casou-se com o General Caio Mário, eleito Cônsul por sete vezes e vencedor de grandes batalhas, que parecia ser uma figura muito popular em Roma. O General Mário provavelmente tenha inspirado em muito, os atos do Jovem César, pois este lhe rendeu diversas homenagens após sua morte em 86a.c.

Em 86 (em seqüência da morte do Pai e de Mário), então com 16 anos, César casa-se e logo após abandona Cossúcia, pouco citada (apenas por Suetônio) na história, em seguida casa-se com Cornélia, filha de Cina, esta sim famosa na história por lhe dar uma filha, Júlia. O pai de Cornélia era um homem poderoso e influente, tendo sido cônsul por 4 vezes em Roma. É provável que esta "aliança" com a família de Cina tenha despertado uma inimizade com o ditador de Roma à época, Cornélio Sila.

Alguns Atos e Fatos acerca de César:

Sila tentou obrigar César a divorciar-se de Cornélia, sem sucesso, declarando-o então inimigo direto, César passou algum tempo fugindo e se escondendo (em Roma mesmo) dos aliados de Sila. Em uma dessas tentativas, foi surpreendido e preso por alguns homens de Sila. Subornou o Capitão e se viu novamente livre. Fugiu então para a Bitínia onde estreou militarmente, com sucesso na campanha.

Suetônio relata que nesta viagem a Bitínia, ao permanecer algum tempo na corte do rei Nicomedes, César teria sido seu amante. Permanência esta, que ainda muitos anos após este fato lhe rendia a alcunha de "Rainha da Bitínia" entre alguns membros do senado, quando queriam lhe diminuir perante outros. Plutarco comenta apenas a passagem de César pela Bitínia.

Após estes fatos, decide ir à Rodes, estudar "eloquência verbal" com Apolônio Molon, mestre, entre outros, de um dos maiores oradores da época, Cícero.

Durante esta viagem, foi sequestrado por Piratas, segue então um fato no mínimo curioso. Os piratas lhe ordenaram que pagasse uma quantia de "20 talentos de ouro" (moeda da época), porém, César lhes disse que não sabiam quem haviam aprisionado e lhes promete "50 talentos", mais que o dobro solicitado.
Sobre sua "estadia" entre corsários, Plutarco descreve o seguinte:

"...depois mandou seus homens uns para cá, outros para lá, para recolher o dinheiro, e ficou sozinho entre os ladroes cilícios, que são os maiores assassinos e os mais sanguinários do mundo, com um de seus amigos e dois escravos somente: e no entretanto ele fazia tão pouco caso que, quando queria dormir, mandava que se calassem. Ficou durante trinta dias com eles, não como prisioneiro, guardado, mas como um príncipe seguido e acompanhado por eles, quase como se fossem seus satélites. Durante esse tempo, ele divertia-se e exercitava-se com eles, sem receio, com toda a tranquilidade; às vezes escrevia versos ou preparava discursos e depois os chamava para ouvi-los recitar; e se por acaso eles davam mostras de não gostar chamava-os a todos de ignorantes e bárbaros, rindo-se, os ameaçava de mandá-los enforcar: com isso muito eles se divertiam, porque tomavam tudo por brincadeira, pensando que aquela sua franqueza de falar tão livremente a eles, procedia de simplicidade e de ingenuidade..."

Após o pagamento do resgate (os 50 talentos prometidos) César foi solto, imediatamente, reuniu alguns navios romanos e foi de encontro aos piratas, que ainda estavam ancorados na mesma ilha, tomou de volta seu dinheiro e mais o dinheiro de outros roubos e sequestros dos piratas e enforcou à todos, como havia prometido.

Foi um excelente orador e advogou em muitas causas, raramente sendo derrotado, fez fama ao ganhar causas praticamente perdidas, sempre com discursos memoráveis.

Outro fato interessante:
Apesar de fazer guerra contra Pompeu quando o senado quis impedir sua volta à Roma das Guerras Gálicas, e após persegui-lo até o Egito, onde ele havia tentado se refugiar depois da derrota na Batalha da Farsalha. Ao chegar ao Egito, César foi "presenteado" com um Jarro que continha a cabeça de Pompeu que havia sido assassinado um ano antes, dizem os relatos que ao ver essa cena, Júlio César chorou a morte daquele que por tantos anos foi seu amigo e que, junto com ele e Crasso, formou o primeiro triunvirato de Roma.

É comum também, em relatos do próprio César, como no De Bello Gallico, que ele reconhecesse o valor de seus oponentes, logo no início do livro ele diz, referindo-se à população da Gália: "...De todos eles são os belgas os mais fortes, por isso mesmo que estão mais longe da cultura e polícia da província romana...". Em outros trechos, refere-se com denotado respeito a seus inimigos de "valor" como o helvécio Divicão, o gaulês Vercingetorix, entre outros.

Como chefe de armas, foi insuperável em seu tempo, venceu batalhas que não deveria ter vencido, fosse por estar em menor número ou desvantagem de terreno, tirava proveito de qualquer deslize da formação e estratégia do inimigo. 
Tinha muito prestígio entre os soldados romanos e mesmo entre os inimigos, muitos o viam como um ser sobrenatural, quase um semi-deus, com o tempo, sua fama em batalhas o precedia antes mesmo de iniciar qualquer combate.

Como político, foi sempre muito bem quisto pelo povo romano, fazia empréstimos sem juros, distribuia comida com frequência, realizou muitos jogos para diversão da massa, chegou até a desviar um braço do Rio Tibre para inundar uma grande área e assim poder realizar uma "batalha naval" programada. Cumpria suas promessas aos soldados e muitos enriqueceram lutando ao seu lado, distribuiu terras em suas novas conquistas para os romanos mais pobres, para que pudessem recomeçar a vida.

Dito tudo isso, preocupei-me em linkar várias palavras do texto, para quem quiser saber mais. São muitos textos a respeito das batalhas e pessoas citadas. Como observou Conn Iggulden em seu terceiro livro: "César  era  um  homem  mais  ocupado  do  que qualquer  escritor  pode  esperar  abordar,  e  até mesmo  uma  versão  condensada preenche estes livros até quase explodir."

Acredito que Júlio César tenha sido uma pessoa de grande carisma, com uma inteligência acima da média e com coragem para levar adiante seus sonhos mais delirantes. Foi um megalômano em alguns momentos, quando tentou ser coroado Rei diante do povo e em algumas de suas construções e homenagens aos outros e a si. Um excelente general, que marchava ao lado dos soldados, e se expunha ao risco tanto quanto qualquer um. Respeitava a diversidade de culturas, usou inclusive as observações astronômicas egípcias para criar o calendário romano. Conheceu muitos povos e assimilou alguns costumes. Cuidou como ninguém da política externa de Roma, ampliou o território romano como nunca antes se havia observado.

E deixou relatos excelentes, que nos permitem recriar essa época da história, tão cheia de batalhas e tão importante em toda a história que viria a seguir.

De algumas destas batalhas que tentarei tratar no terceiro Post sobre Júlio César, O Imperador de Roma.

Desculpem a demora em publicar este, e já antecipo as desculpas pela provável demora dos próximos Posts.

12 abril, 2010

Você é BURRO(A) !


Calma caro “blogspectador” não estou te xingando, na verdade, estou te "ajudando" e pretendo explicar como.


O texto abaixo foi extraído da revista Superinteressante do mês de Abril de 2010, eu estou tão de acordo com o texto, que vou simplesmente digitá-lo todo aqui, normalmente eu iria lê-lo, fazer um resumo e então postar, mas o texto da Marisa Adán Gil ficou tão legal, que resumir seria um crime.



Eu “editei” o primeiro parágrafo para que a leitura flua melhor, quem quiser ler o texto na própria revista, pode encontrá-la durante este mês nas bancas, ou em .pdf, no link no final desta postagem.

Boa leitura.



O PROBLEMA DO ELOGIO

VOCÊ DEVE ser muito inteligente. Afinal, está lendo este BLOG. Passou por postagens sobre assuntos complexos, que exploram a ciência, a religião, a geologia e o comportamento humano. Estou orgulhoso. Assim você vai longe! Em breve estará entre os maiores pensadores brasileiros. Rumo ao Nobel, hein?

Ah, não diga que agora está se sentindo pressionado. Eu não queria causar isso. Aliás, ninguém quer gerar esse efeito quando parabeniza outra pessoa. Mas às vezes o tiro sai pela culatra. E o elogio causa um mal danado.

Na verdade, o elogio em si não tem nada de errado. A gente é que não aprendeu a usá-lo do jeito certo. E a lambança é generalizada: disparamos elogios em casa, na escola ou no trabalho, sem pensar nas consequências. Os resultados de tanto paparico podem ser catastróficos. A curto prazo, o coitado que foi enaltecido pode ficar desconfortável, inseguro, ansioso. A longo prazo, esse gênio em potencial corre o risco de virar um arruinado na vida.

Em alguns casos, o estrago começa já na infância. Se for reconhecida como inteligente, uma criança pode sentir pressão demais sobre os ombrinhos para corresponder às expectativas. Isso às vezes é bom, porque incentiva a criança a estudar para conseguir boas notas. Mas também pode ser ruim, muito ruim – por estimular a criança a usar truques para se destacar. Como fizeram alguns dos 400 alunos de uma escola de Nova York pesquisados pela psicóloga americana Carol Dweck, da Universidade Stanford.

Carol realizou uma série de estudos com essa turma. Um deles era composto de 4 provas. Na 1ª, alunos da 5ª série fizeram um teste de QI, simples para estudantes da sua idade. Terminado o teste, os pesquisadores davam as notas aos estudantes, e encerravam a conversa com um elogio. Metade deles ouvia “você deve ser muito inteligente”. Para a outra metade, o texto era diferente – não parabenizava o aluno diretamente, e sim sua atitude: “Você deve ter se esforçado muito para conseguir esse resultado.” Carol e sua equipe queriam dividir os alunos em dois grupos - “os inteligentes” e “os esforçados” - para ver o impacto da diferenciação no comportamento das crianças.

O impacto apareceu rapidinho, já na 2ª tarefa. Nela, os estudantes tiveram a chance de fazer sua escolha, um teste simples, tão fácil quanto o 1º, ou um mais complicado, que faria “faria com que eles aprendessem muitas coisas novas”. O grupo dos inteligentes, escolheu o teste fácil. O dos esforçados foi mais corajoso – optou pela prova difícil. Aí veio o 3º teste, bem mais complexo que os anteriores. Os dois grupos se deram mal. Só que os esforçados – justificando o apelido – se dedicaram muito mais à resolução da prova. Os inteligentes? Esses aí ficaram extremamente nervosos. Mal conseguiram terminar o teste.



A grande surpresa, no entanto, veio na 4ª prova. Essa era barbada, tão fácil quanto a primeira. O resultado: os elogiados pelo esforço melhoraram em 30% a nota que haviam tirado na 1ª prova. Já os inteligentes foram mal – o desempenho deles despencou 20%.

XÔ RISCO

Não é difícil entender o que a pesquisa mostra. Uma criança elogiada pela inteligência entende o seguinte: “Tenho que ser sempre inteligente, porque essa é a imagem que os adultos têm de mim”. Mas manter um alto nível de inteligência não parece uma tarefa um tanto abstrata? Imagine para uma criança. O jeito é adotar a saída genérica (e mais fácil): parecer inteligente. Para isso basta criar uma zona de segurança. Evitar provas difíceis, cursos complicados, qualquer desafio que possa representar um risco à imagem. Já na cabeça do aluno elogiado pelo esforço, o pensamento é outro: se passou por esse desafio, pode vencer o próximo – basta tentar. “Por isso o elogio deve ser dirigido para o processo, e não para o resultado”, diz Carol. “Sempre para as ações, nunca para a pessoa”.

Refugiar-se nessa zona de segurança não é coisa de criança. Adolescentes e Adultos fazem isso. Garotas gostam de sentir-se atraentes, certo? Se uma menina recebe cantadas na faculdade sempre que está maquiada, por que iria à aula de cara limpa? Vai que alguém percebe que ela não é tão gata assim... E aquele amigo que sabe tudo de cinema e tem fama de culto? Talvez ele não entre na próxima discussão que vocês tiverem sobre Camus. Se ele não souber muito sobre literatura, a conversa tem potencial para destruir a reputação dele na patotinha.

A zona de segurança até é capaz de evitar que a imagem desse pessoal – e a sua, porque você talvez já tenha recorrido a ela (com certeza sim) – saia arranhada. Mas também gera o medo de arriscar. Pode fazer alguém evitar uma promoção no trabalho, uma mudança de cidade, uma pós-graduação difícil... Qualquer desafio. Como Carol Dweck descobriu em suas pesquisas. “Conversei com vários adultos considerados gênios na infância que nem concluíram a universidade”, diz. “Eles não sabiam lidar com o fracasso.”

Identificou-se com algum desses casos? Não se culpe, é natural buscar uma área de conforto – nosso cérebro faz isso. Tanto que, se você receber elogios constantemente, ele vai achar que você está em um ótimo patamar. E vai parar de trabalhar para ajudar você nas próximas conquistas.

Não, ele não está conspirando contra você. Só deu uma descansada. Sempre que ganhamos parabéns por algo, o cérebro entende isso como uma recompensa. Você fez algo bom e recebeu um agradinho. Ponto para você. Mas o cérebro quer que você acumule mais pontos, e por isso incentiva iniciativas ousadas. É a nossa motivação, gerada por uma área do cérebro chamada centro de recompensa. “Está aí o segredo da persistência”, diz o psiquiatra Robert Cloninger, da Universidade Washington de St. Louis, Missouri. “O corpo trabalha com determinação depois que aprende a lição”.

O problema é quando acumulamos elogios – ou pontos – demais. O cérebro entende que nem precisa mais mandar a mensagem de incentivo. É como se o centro de recompensa se aposentasse da torcida pelo seu sucesso. Pior pra você: sem esse apoio, você acaba sem motivação para fazer as tarefas. Sem disposição para buscar a tal bolsa de estudos no exterior ou criar aquele novo projeto no escritório.

Moral da história: seja por medo de arriscar, seja por falta de vontade, uma pessoa talentosa e devidamente elogiada pode se dar pior na vida do que alguém meramente esforçado. Existe, no entanto, uma pessoa capaz de colocá-los em pé de igualdade (e da pior maneira possível): O chefe.

Chefes são como pais. Depositam uma expectativa enorme em cima dos funcionários. Muitas vezes usam o parabéns para impor um comportamento específico. É o “elogio controlador”, que funciona mais ou menos assim na prática: “Bom trabalho. Gosto quando você apoia minhas ideias”. “Nesse caso, o chefe está mandando um sinal bem claro: faça tudo do meu jeito e será reconhecido”, diz Willian Bull, consultor da Mercer, especializada em recursos humanos.

Assim, o elogio vira ordem. Mas tem o caso em que o elogio deixa o funcionário sem qualquer diretriz. “Numa empresa, o elogio vem quase sempre para os resultados, poucas vezes para o esforço individual”, diz Bull. Na prática, vira aquele tapinha nas costas depois de um relatório. O chefe gostou dos números, mas nem se importou com o que sua equipe fez para consegui-los. Sem saber que tipo de atitude devem ter dali para a frente. Os funcionários ficam perdidos. Tão inseguros quanto as crianças estudadas pela psicóloga Carol Dweck.

Por isso, um conselho. Se você não receber nenhum elogio do professor, dos pais ou do chefe nos próximos dias, não se preocupe: esse pode ser o melhor caminho para o seu sucesso.



Marisa Adán Gil

Superinteressante número 277, abril de 2010.




Se quiser ler a revista na íntegra clique aqui, nas páginas 80/81/82 3 83.

As partes grifadas em negrito, são as mudanças que fiz no início do texto.

Claro que o meu exemplo, no título deste post foi “extremo” elogiar pode até deixar o cérebro preguiçoso, mas insultar e nunca reconhecer um esforço pode ter um efeito muito pior e mais duradouro, os tais “traumas” que a gente cansa de ver por aí.

O que fica da reportagem é: Saiba como elogiar. Faça-o de maneira que isso se torne um incentivo e não uma barreira ao talento/conhecimento de alguém.

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