18 abril, 2010

O Imperador de Roma - Personalidade

"Acredito que Júlio César tenha sido uma pessoa de grande carisma, com uma inteligência acima da média e com coragem para levar adiante seus sonhos mais delirantes. Foi um megalômano em alguns momentos, quando tentou ser coroado Rei diante do povo e em algumas de suas construções e homenagens aos outros e a si."

Para conseguir mostrar um pouco da personalidade de Júlio César vou escrever uma breve introdução histórica/genealógica, depois exemplificar alguns atos e por fim tentar uma conclusão.

É importante salientar que as "melhores" fontes sobre a vida de César, são, em ordem: Plutarco (46 à 126 d.c), Suetônio (69 à 141 d.c) e o próprio Júlio César (100a.c à 44a.c) que deixou apenas relatos de sua vida adulta/militar.

Não se encontram muitas informações sobre César antes dos 16 anos de idade. 

Plutarco e Suetônio escreveram quase em formato de crônica sobre a vida de César, sendo o primeiro melhor escritor que o segundo, porém deixando um relato mais curto.

Contudo, convém saber que César era filho de Caio Júlio César (sim, ele herdou o mesmo nome do pai) e Aurélia Cota, duas famílias de "patrícios".

Os patrícios formavam a aristocracia ou nobreza romana e tinham sua descendência direta ligada aos chefes tribais da região do período "pré-romano" ou aos Deuses da época. Somente patriciados podiam concorrer ao cargo de cônsul, procônsul ou senador (respectivamente os 3 cargos de maior importância), ou seja, dominavam a cena política.

A ascendência de César, por exemplo, segundo a lenda, remetia até Lulus, que era filho do príncipe Troiano Enéias e Neto da Deusa Vênus (ou afrodite).

Apesar de nobre, sua família não era rica, para os padrões de riqueza da época, por isso nem seu Pai nem seu Avô chegaram a ocupar cargos de grande importância na república romana.

Sua tia paterna Júlia casou-se com o General Caio Mário, eleito Cônsul por sete vezes e vencedor de grandes batalhas, que parecia ser uma figura muito popular em Roma. O General Mário provavelmente tenha inspirado em muito, os atos do Jovem César, pois este lhe rendeu diversas homenagens após sua morte em 86a.c.

Em 86 (em seqüência da morte do Pai e de Mário), então com 16 anos, César casa-se e logo após abandona Cossúcia, pouco citada (apenas por Suetônio) na história, em seguida casa-se com Cornélia, filha de Cina, esta sim famosa na história por lhe dar uma filha, Júlia. O pai de Cornélia era um homem poderoso e influente, tendo sido cônsul por 4 vezes em Roma. É provável que esta "aliança" com a família de Cina tenha despertado uma inimizade com o ditador de Roma à época, Cornélio Sila.

Alguns Atos e Fatos acerca de César:

Sila tentou obrigar César a divorciar-se de Cornélia, sem sucesso, declarando-o então inimigo direto, César passou algum tempo fugindo e se escondendo (em Roma mesmo) dos aliados de Sila. Em uma dessas tentativas, foi surpreendido e preso por alguns homens de Sila. Subornou o Capitão e se viu novamente livre. Fugiu então para a Bitínia onde estreou militarmente, com sucesso na campanha.

Suetônio relata que nesta viagem a Bitínia, ao permanecer algum tempo na corte do rei Nicomedes, César teria sido seu amante. Permanência esta, que ainda muitos anos após este fato lhe rendia a alcunha de "Rainha da Bitínia" entre alguns membros do senado, quando queriam lhe diminuir perante outros. Plutarco comenta apenas a passagem de César pela Bitínia.

Após estes fatos, decide ir à Rodes, estudar "eloquência verbal" com Apolônio Molon, mestre, entre outros, de um dos maiores oradores da época, Cícero.

Durante esta viagem, foi sequestrado por Piratas, segue então um fato no mínimo curioso. Os piratas lhe ordenaram que pagasse uma quantia de "20 talentos de ouro" (moeda da época), porém, César lhes disse que não sabiam quem haviam aprisionado e lhes promete "50 talentos", mais que o dobro solicitado.
Sobre sua "estadia" entre corsários, Plutarco descreve o seguinte:

"...depois mandou seus homens uns para cá, outros para lá, para recolher o dinheiro, e ficou sozinho entre os ladroes cilícios, que são os maiores assassinos e os mais sanguinários do mundo, com um de seus amigos e dois escravos somente: e no entretanto ele fazia tão pouco caso que, quando queria dormir, mandava que se calassem. Ficou durante trinta dias com eles, não como prisioneiro, guardado, mas como um príncipe seguido e acompanhado por eles, quase como se fossem seus satélites. Durante esse tempo, ele divertia-se e exercitava-se com eles, sem receio, com toda a tranquilidade; às vezes escrevia versos ou preparava discursos e depois os chamava para ouvi-los recitar; e se por acaso eles davam mostras de não gostar chamava-os a todos de ignorantes e bárbaros, rindo-se, os ameaçava de mandá-los enforcar: com isso muito eles se divertiam, porque tomavam tudo por brincadeira, pensando que aquela sua franqueza de falar tão livremente a eles, procedia de simplicidade e de ingenuidade..."

Após o pagamento do resgate (os 50 talentos prometidos) César foi solto, imediatamente, reuniu alguns navios romanos e foi de encontro aos piratas, que ainda estavam ancorados na mesma ilha, tomou de volta seu dinheiro e mais o dinheiro de outros roubos e sequestros dos piratas e enforcou à todos, como havia prometido.

Foi um excelente orador e advogou em muitas causas, raramente sendo derrotado, fez fama ao ganhar causas praticamente perdidas, sempre com discursos memoráveis.

Outro fato interessante:
Apesar de fazer guerra contra Pompeu quando o senado quis impedir sua volta à Roma das Guerras Gálicas, e após persegui-lo até o Egito, onde ele havia tentado se refugiar depois da derrota na Batalha da Farsalha. Ao chegar ao Egito, César foi "presenteado" com um Jarro que continha a cabeça de Pompeu que havia sido assassinado um ano antes, dizem os relatos que ao ver essa cena, Júlio César chorou a morte daquele que por tantos anos foi seu amigo e que, junto com ele e Crasso, formou o primeiro triunvirato de Roma.

É comum também, em relatos do próprio César, como no De Bello Gallico, que ele reconhecesse o valor de seus oponentes, logo no início do livro ele diz, referindo-se à população da Gália: "...De todos eles são os belgas os mais fortes, por isso mesmo que estão mais longe da cultura e polícia da província romana...". Em outros trechos, refere-se com denotado respeito a seus inimigos de "valor" como o helvécio Divicão, o gaulês Vercingetorix, entre outros.

Como chefe de armas, foi insuperável em seu tempo, venceu batalhas que não deveria ter vencido, fosse por estar em menor número ou desvantagem de terreno, tirava proveito de qualquer deslize da formação e estratégia do inimigo. 
Tinha muito prestígio entre os soldados romanos e mesmo entre os inimigos, muitos o viam como um ser sobrenatural, quase um semi-deus, com o tempo, sua fama em batalhas o precedia antes mesmo de iniciar qualquer combate.

Como político, foi sempre muito bem quisto pelo povo romano, fazia empréstimos sem juros, distribuia comida com frequência, realizou muitos jogos para diversão da massa, chegou até a desviar um braço do Rio Tibre para inundar uma grande área e assim poder realizar uma "batalha naval" programada. Cumpria suas promessas aos soldados e muitos enriqueceram lutando ao seu lado, distribuiu terras em suas novas conquistas para os romanos mais pobres, para que pudessem recomeçar a vida.

Dito tudo isso, preocupei-me em linkar várias palavras do texto, para quem quiser saber mais. São muitos textos a respeito das batalhas e pessoas citadas. Como observou Conn Iggulden em seu terceiro livro: "César  era  um  homem  mais  ocupado  do  que qualquer  escritor  pode  esperar  abordar,  e  até mesmo  uma  versão  condensada preenche estes livros até quase explodir."

Acredito que Júlio César tenha sido uma pessoa de grande carisma, com uma inteligência acima da média e com coragem para levar adiante seus sonhos mais delirantes. Foi um megalômano em alguns momentos, quando tentou ser coroado Rei diante do povo e em algumas de suas construções e homenagens aos outros e a si. Um excelente general, que marchava ao lado dos soldados, e se expunha ao risco tanto quanto qualquer um. Respeitava a diversidade de culturas, usou inclusive as observações astronômicas egípcias para criar o calendário romano. Conheceu muitos povos e assimilou alguns costumes. Cuidou como ninguém da política externa de Roma, ampliou o território romano como nunca antes se havia observado.

E deixou relatos excelentes, que nos permitem recriar essa época da história, tão cheia de batalhas e tão importante em toda a história que viria a seguir.

De algumas destas batalhas que tentarei tratar no terceiro Post sobre Júlio César, O Imperador de Roma.

Desculpem a demora em publicar este, e já antecipo as desculpas pela provável demora dos próximos Posts.

Um comentário:

Anônimo disse...

É interessante perceber que a história de Julio César, apresentada pelo Guilherme, envolve muito da política apresentada para nós hoje. Mas não pelas práticas imorais e antiéticas de nossos políticos e sim pelas estratégias utilizadas para conquistar a carisma de um povo.
O Guilherme comentou sobre em alguns pontos, onde Julio Cesar fazia (e cumpria) promessas, distribuía dinheiro sem a cobrança de juros, distribuía alimentos para a população mais carente entre outras coisas.
Se olharmos para os políticos de hoje, é exatamente isso que eles fazem ou pelo menos tentam fazer para conquistar a população. Pode parecer que estou “viajando” falando disso quando o Guilherme queria somente falar sobre Julio Cesar, mas estamos próximos de uma eleição e achei interessante comentar sobre isso para que possamos realmente perceber o que realmente os políticos de hoje querem, se apenas cativar o povo ou realmente fazer a diferença para um país melhor.

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