12 janeiro, 2010

Personalidade e Filhos - Parte I

"Para mim, o mais importante segue sendo aquilo que, de certa forma, nos diferencia dos outros animais, o diálogo, só que enquanto os animais resolvem suas "discussões" com um simples rosnar, rugir ou uivar, nós desenvolvemos tantas palavras e meios para dizer as mesmas coisas que as vezes pais e filhos tem a sensação de que não falam a mesma língua."

Bom, já que fui "citado" no blog Stupid Little World, com um pseudônimo, mas fui, eu ia comentar por lá, mas ia ficar um pouco grande, resolvi postar por aqui mesmo, já que o assunto é bom e rende muito.


A postagem traz um tema interessante (e comum) do atual modelo de relacionamentos que vemos por aí. Uma criança de 14 anos, fruto de um lar confuso e que namora um "homem" de 18 anos, com o qual, aparentemente, perdeu a virgindade.

Tenso é a palavra que o blog usa para resumir a situação, pra logo em seguida questionar o valor da "base familiar" e concluir (por enquanto) que não terá filhos.

Então, lá vamos nós.

Acho que os valores que a família pode passar são fundamentais, mas minha opinião é um pouco diferente. Eu diria que aprendemos mais com o que "não tentam nos ensinar". Bah! essa ficou confusa né?

Digo isso baseado naquele velho fato: como pode dois irmãos, com pouca diferença de idade, com basicamente as mesmas "instruções" da família serem pessoas tão distintas? o ambiente pode influenciar tanto  assim? e qual o peso das relações extra-familiares (amigos - professores - amores)? 

Vou fazer uso de algumas frases e parágrafos da reportagem de capa da Revista Super Interessante de Janeiro de 2008 - que pode ser lida na íntegra AQUI! - para tentar expor minha opinião.

Vou tentar elucidar o que eu disse acima, "aprender com o que não tentam nos ensinar":
Qual o jeito mais fácil de incentivar uma criança a leitura, por exemplo?
Comprar livros e mais livros para ela e obriga-lá a ler? ou será que apenas conviver com pessoas que lêem (e comentam as leituras) é suficiente?
Eu fico com a segunda opção. Aqui em casa ninguém me "ensinou" a ler, mas diariamente via meus pais lendo jornais e revistas, recebíamos 1 jornal diário e 4 revistas. Nenhuma dessas leituras era direcionada para crianças, mas eu e minha irmã (que somos pessoas muito diferentes) criamos o hábito e o gosto pela leitura. E as pessoas que eu conheço, que não tem o menor hábito de leitura, vêm de lares que não lêem nada mesmo e os pais ainda acham estranho quando o filho tem dificuldades em português ou literatura no colégio.

Da revista:

"Conforme interage com os adultos, a criança se molda ao mundo em que nasceu. Se os adultos ao redor forem lobos ou cavalos, passará a vida toda uivando ou relinchando e bebendo água com a língua, como aconteceu como o Selvagem de Aveyron, garoto encontrado na França em 1799 que viveu a infância isolado na floresta e por volta dos 12 anos trotava, farejando e se alimentado de raízes. 

Ou então as indianas Kamala e Amala, dos anos 20. Acolhidas por lobos quando recém-nascidas, elas andavam de quatro, tinham horror à luz e passavam a noite uivando. Entre lobos ou humanos, a criança aprende o que pode ou não fazer. Percebe que, ao chorar mais alto, a mamadeira vem mais depressa. Portanto, vale a pena ser manhosa, pelo menos de vez em quando. Quando joga um objeto no chão, é repreendida pela mãe e ganha uma bela bronca. Também começa a diferenciar sentimentos: o que achava ser dor, começa a receber nomes diferentes como fome, ciúme, medo."


Por essa ótica, não é difícil entender alguns dos comportamentos da guria de 14 anos, mas não todos.

Quem já não viu aquele lar amoroso, atencioso e cheio de apoio gerar aquele filho(a) problemático, revoltado ou inconsequente, pelo menos sob alguns aspectos? acontece. E o oposto? acontece também.

O lar pode ser tudo isso que foi citado, mas pode ter esquecido de aprofundar certos conceitos, principalmente do mundo que rodeia aquela criança, do que adianta querer manter a criança longe da violência ou sexualidade se lá fora "tá na capa da revista".
Sem falar na influência que o círculo social tem na formação de qualquer um, vou escrever sobre isso na Parte II.

O que fazer? tente moldar o senso crítico da criança, em outras palavras, não ensine a fórmula, ensine o conceito, lembrando que o que valia na sua época pode não valer mais. Nós crescemos em uma época em que uma menina de 14 anos grávida de um homem mais velho é um "escândalo", mas basta olharmos no máximo até nossos bisavós para ver que isso já foi bem diferente. Retrocesso ou Evolução? depende do ponto de vista.

Meu pai tem uma frase mais ou menos assim "tem que passar conhecimento e liberdade" - parece ótimo, mas só isso pode criar situações complicadas, até onde deve ir essa liberdade?

Uma frase comum entre as mães é "criança precisa de limites" - mas quais e quantos?

Mais um trecho da Super Interessante:

"Prova disso é um estudo citado no livro Freakonomics de Steven Levitt e Stephen Dubnere, realizado no ano de 1991 com 20 mil crianças americanas até a 5ª série. O estudo tentou relacionar o desempenho escolar das crianças com o perfil dos pais e a convivência de todos em casa. Descobriu que as boas notas não estão relacionadas àquilo que os pais fazem se mandam os filhos ler ou lêem para eles antes de dormir , mas ao que eles são: se têm o hábito de ler para si próprios, se têm livros em casa e se são bem instruídos.


Nos primeiros anos, o filho se identifica com quem faz o papel de pais e passa muito tempo copiando suas ações, diz Eloísa Lacerda, fonoaudióloga e psicanalista da PUC-SP especializada na 1ª infância. Talvez se explique assim o caso do filho que passa a infância apanhando e, quando adulto, vira um pai igualmente agressivo. A mesma teoria serviria também para explicar o contrário: o filho que, em alguns pontos, se torna o contrário dos pais. É que eles podem servir de referência de traços aos quais reagimos. Assim os psicólogos explicam a família do casal que passa as noites brigando e tem um filho do jeito oposto tranqüilo e pacificador. 


O problema é que, se explicam muito bem a raiz das motivações de uma pessoa em particular, essas teorias não servem para montar leis gerais da natureza. Vale a regra do cada caso é um caso, que nem sempre é comprovada por estatísticas. Além disso, o convívio com os pais é só uma etapa do desenvolvimento. Em casa, a criança cria ferramentas que poderá desenvolver ou não quando passar por outro desafio: a busca para ganhar destaque entre seus iguais. "


Para mim, o mais importante segue sendo aquilo que, de certa forma, nos diferencia dos outros animais, o diálogo, só que enquanto os animais resolvem suas "discussões" com um simples rosnar, rugir ou uivar, nós desenvolvemos tantas palavras e meios para dizer as mesmas coisas que as vezes pais e filhos tem a sensação de que não falam a mesma língua.

Pensando nisso tudo, dá pra concordar que ter filhos pode não ser uma boa mesmo Ana.

Mas a graça não é viver perigosamente? pra quem pensava que adrenalina é saltar de paraquedas ou escalar uma montanha - experimente educar um filho.

Na Parte II - As amizades influenciam?

2 comentários:

Daniel disse...

Legal seu blog, seus textos são bem escritos! Parabéns!

http://www.e9adm.com.br

CaroL Rios disse...

realmente, depois do meu post, do teu post...só me resta não ter filhos mesmo xP

se bem que lááá no fundo, a gente sabe que a chance disso acontecer é remota...

escalar uma montanha parece ser mais fácil que criar um filho, realmente...mas ela não tem um sorriso dominador e não fala mamãe...

entããão, apesar de tudo... talvez um filhote de gente compense toda dificuldade que possa ter causado, hehe

parabéns pelo post, brigado por ter linkado meu blog e ter me chamado de ANA ¬¬
haha

bjs

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